Uma das coisas que gosto muito de fazer é observar as pessoas em suas
grandes concentrações (familiares - festivas - sociais). Isso porque
daí nasce o gesto brusco do comportamento, modo de reagir às
"provocações" cotidianas que as cercam. Gosto de observar como as
pessoas concebem, por exemplo, conceitos sociais, políticos,
religiosos, familiares, populares ... Poderíamos enumerar dezenas
desses conceitos, mas quero ater-me em um especial. Sempre
impressiona-me a forma com que as pessoas denotam a palavra e o
conceito de santidade.
Elas insistem muito em creditar o conceito de santidade a pessoas que
não tem ansiedades, ilusões, angústias, fraquezas, decepções, e que
não decepcionam. Começam a perceber que essa santidade não existe em
plenitude em nenhuma pessoa que faz parte do seu rol de amizades e
convivência do dia a dia, quer na rotina do trabalho, quer nos
encontros casuais enquanto trafegam pelas ruas e vielas, quer nos
momentos de lazer. ~"
As pessoas começam a perceber que não há outras livres totalmente de
fragmentos de inveja, mesquinharia, mentira, desconfiança,
indiferença, interesse pessoal e outras mazelas ... , em maior ou
menor escala. Assim, começam a escolher o seu grupo ou clã em que
possam conviver e confiar. Os grupos, em maior ou menor grau, são
excludentes, uma vez que em si eles acolhem a menor parte da
sociedade. Eles podem ser morais ou imorais, legais ou ilegais. Um
grupo filantrópico, por exemplo é moral e legal. Mas pode afirmar em
si aquilo que os outros não são e não fazem... Um grupo de traficantes
é imoral e ilegal, e pode justificar a latente situação por ser
excluído da sociedade. Mas se outras pessoas aderirem ao referido
grupo ou se manifestarem com interesse maior e "prejudicial" ao
existente são excluídas e punidas. E muitas delas pagam com o preço da
própria vida. E por aí vai um ciclo vicioso e social que parece não
ter fim.
Por esse motivo, as pessoas querem perceber e encontrar uma santidade
para si e para as outras se elas estiverem fora de toda essa
realidade, fora do social, fora do cotidiano, fora das angústias.
Ora, não somos anjos. Somos humanos. O anjo é um ser espiritual. Anjo
é designação de encargo, não de natureza. Se perguntares pela
designação da natureza, é um espírito; se perguntares pelo encargo, é
um anjo: é espírito por aquilo que é, é anjo por aquilo que faz.
Nem tanto ao céu, nem tanto à terra.
Encontramos santidade nos pequenos gestos de cada dia. No almoço que a
mãe faz todos os dias com humildade e leva à mesa para saciar os
filhos; no labor cotidiano de cada pai de família para trazer os
proventos ao seu lar; na rua varrida pelo gari; na justa causa
defendida pelo advogado; no médico que administra uma cirurgia e
prolonga a renovação do processo vital, recuperando uma vida; na vida
que nasce nesse momento, enquanto lês esse artigo; na vida que encerra
o seu tempo terreno enquanto fazes o mesmo; no ir e vir do motorista,
nas estradas esburacadas, embaixo de sol e chuva e longe de casa; nas
mãos santas e ungidas do sacerdote que consagra o Pão para a Santa Ceia.
A santidade e a retidão estão no modo como reagimos e suportamos os
nossos afazeres.
Por fim, nós sabemos bem, como a Sagrada Escritura e a Igreja nos
ensinam, que o único Mediador entre Deus e os homens é Jesus Cristo.
Mas nós sabemos também, para nossa grande consolação, que os Santos,
nossos irmãos, tentaram imitar Jesus à perfeição durante a sua vida
terrena e, vivendo uma vida de fé e de caridade heróica, dedicaram a
sua vida a Deus e aos irmãos. Ora, próximos de Cristo no paraíso, eles
são modelos de imitação e nossos intercessores.
Não nasceram santos e nem viveram alheios à vida cotidiana. Apenas
buscaram amar os outros e aquilo que faziam.
"Sede perfeitos como vosso Pai Celeste é perfeito" (MT 5,48).
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