quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

AMOR À VIDA

Em que Consiste o Amor à Vida

A vida, não importa a aparência com que se revela a nossos olhos, é benção com que a Justiça Divina nos oferece nova oportunidade de aprendizado.

Quer façamos dela bom ou mau uso, ela sempre segue em frente, consoante a diretriz de progresso que, a cada etapa reencarnatória, nos traça uma meta a alcançar.

Se, em algum momento, ela te pareça ingrata, não te revoltes contra ela, maldizendo-a ou intentando perturbar ou abreviar seu curso, pela trilha do vício que entorpece ou do desleixo com a saúde que a extingue prematuramente.

Cada um de nós vem a este mundo com uma tarefa a cumprir. As condições que nos são ofertadas ao nascermos para que logremos sucesso na empreitada podem ser expressas em três níveis:

a) no nível pessoal, podemos nascer mais ou menos saudáveis, mais ou menos bonitos e dotados de mais ou menos inteligência;

b) no nível familiar, podemos nascer em uma família equilibrada, com pais gentis e protetores, irmãos e irmãs amigos ou, então, em um família com um maior grau de desequilíbrio, que pode ser restrito a um único membro da família com quem nos atritamos sempre, ou, no outro extremo, constituir-se em verdadeiro campo de batalha, com pai ausente ou agressivo, mãe autoritária e destituída de carinho e irmãos e irmãs a se engalfinharem pelo mais fútil motivo;

c) no nível social, podemos nascer em uma família de menor ou maior poder aquisitivo, em toda a longa escala que vai do indigente que não tem onde morar e que esmola por comida até o arquimilionário magnata que gasta, em uma única noitada, quanto daria para alimentar a toda uma cidade. Ainda a nível social, podemos nascer membros de uma minoria, segregada pelo sexo, pela cor, pela raça ou pela religião ou, por outro lado, pertencermos à maioria não discriminada. Podemos nascer em um país em paz ou em meio à mais terrível guerra. Podemos nascer em um alegre paraíso tropical, em um movimentado e estressante bairro de uma grande cidade ou em um lugar pouco habitado e inóspito, como a imensidão gelada dos pólos ou as escaldantes areias do deserto.

Quaisquer que sejam as condições que a vida nos oferece como ponto de partida no instante do nascimento ou a qualquer momento ao longo de nossa caminhada, devemos sempre manter a calma e o equilíbrio que provêm de uma fé inabalável nos desígnios do Pai Criador. Cada um tem a vida que mais lhe convêm.

Se, em uma vida, a beleza, a inteligência ou a riqueza foram entraves ao progresso do espírito, em outra, tais atributos serão diminuídos de forma a melhor lhe abrir o caminho do aprendizado salutar. Se, numa vida, nascido em classe dominante, abusou de seu poder, perseguindo e torturando, física ou moralmente, seus semelhantes e contraindo para si terríveis dívidas com a harmonia cósmica, virá, em vida posterior, desprovido de maior poder, não de forma a puni-lo, mas, antes, de modo a protegê-lo, evitando seu maior endividamento com a Justiça Divina. A Justiça Divina jamais pune o espírito que infringiu a Lei. Perfeita Mãe que é, dotada de sabedoria e amor infinitos, a cada encarnação ela saberá prover a vida melhor adequada às necessidades que cada espírito tem de aprendizado.

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Tendo em vista o que foi dito, é necessário que reflitamos quanto à necessidade de Amor à Vida. Conseguindo compreender que nossa atual existência contem em cada aspecto fatores da maior importância para nosso crescimento espiritual, devemos estar permanentemente atentos para todas as oportunidades que surgem, avaliando cada uma à luz dos ensinamentos de Jesus, de forma a sabermos quais nos convém aceitar como motores de nosso crescimento e quais devemos ignorar para não nos levarem a assumir maiores compromissos reparadores. Quando estivermos preparados para discernir entre aquilo que nos é permitido fazer e aquilo que nos convém, como ensina o apóstolo Paulo, saberemos fazer sempre a melhor escolha.

O primeiro estágio da nossa conscientização é aprender a amar a nossa própria vida. Alcançado esse estágio, estaremos sempre atentos à preservação de nossa saúde física e moral, evitando os excessos de qualquer natureza, procurando melhores companhias, procurando somente lugares de boa freqüência e dando ouvidos somente a conversas salutares ou edificantes.

À medida que formos aprendendo a amar nossa própria vida, naturalmente se despertará em nós o amor à vida daqueles que estiverem à nossa volta. Primeiro será o amor pela nossa família, depois por nossos colegas de trabalho e lazer, depois pelos que nos são afins pela cor, pelo credo ou pela nacionalidade.

A meta seguinte já requer mais amadurecimento espiritual e é aquela testemunhada por humanistas, filósofos e grandes pensadores: o Amor à Vida Humana em todo o Planeta, sem discernimento.

Finalmente, ao alcançarmos os maiores patamares de entendimento, faremos eco aos grandes mensageiros e entendermos que o Amor à Vida deve ser universal, pois tudo o que existe na natureza, do átomo ao arcanjo, é reflexo do Psiquismo Divino percorrendo todos os estágios de evolução, devendo, portanto, ser tratado com reverência e respeito.

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Quando falamos de Amor à Vida de forma universal, não queremos dizer com isso que seja, em essência, errado, quebrar uma pedra, cortar uma árvore, colher um pé de alface ou matar uma formiga. O ser humano tem um metabolismo que requer alimentação física. Em estágios mais avançados, talvez não mais encarnando no planeta Terra, ele logrará, sem maior dificuldade, suprir toda sua necessidade de energia diretamente do fluido cósmico universal, como Jesus demonstrou ser possível ao jejuar de alimento sólido por 40 dias.

Quando falamos de Amor à Vida de forma universal estamos nos referindo ao respeito que devemos ter por cada ser vivo, jamais matando ou mutilando qualquer um por leviandade ou divertimento. Quebrar a rocha para construir caminhos ou edificar moradias é utilização nobre, da mesma forma que cortar a árvore para construir um móvel, ou para pavimentar uma casa. Colher a planta ou matar com respeito o animal que servirão de alimento não são atos de desrespeito à vida. Não age com desamor à vida o cientista que desenvolve o remédio para eliminar a bactéria causadora de doença, nem, tampouco, o agricultor que envenena o formigueiro para preservar o cultivo destinado à alimentação de uma comunidade.

Deve ser sempre entendido, no entanto, que todo ato de tirar a vida que não seja devidamente justificado é contra a lei da natureza. Arrancar todas as frutas de uma árvore para comer algumas e destinar as outras ao apodrecimento é desrespeito à vida. Pisar na grama sem necessidade, arrancar uma flor pelo simples prazer, machucar ou matar um animal por divertimento, todas essas atitudes são demonstrações tristes de descaso com a vida.

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Antes de prosseguirmos, convém façamos uma pequena pausa para respondermos a uma pergunta que forçosamente se apresenta: O que fazer caso nos empenhemos em entender e ajudar ao nosso vizinho e ele insista em nos ofender e prejudicar? Cristo nos ensinou quantas vezes devemos perdoar e que somente teremos mérito se amarmos nossos inimigos. Sim, mas como fazer o bem e amar a quem rejeita nossa ajuda física e nos retribui o amor com ódio?

Cada um de nós deverá fazer aquilo que está ao seu alcance para ajudar o seu irmão. Jesus não nos pediu jamais o impossível. Se nos é possível apenas não responder às ofensas e não retribuir as agressões, façamos isso. Se conseguirmos fazer isso, olhando nosso vizinho com carinho, muito bem. Isso é bom indício de evolução. Se, no entanto, somente conseguimos controlar nosso impulso por revidar, virando as costas e indo embora, já é uma medida válida, posto estarmos dando o melhor de nós. Uma vez afastados fisicamente do agressor, se já sabemos orar, oremos por ele, pedindo a Deus que o inspire e que ele perceba que não lhe queremos mal.

Quando nos recusamos a responder a agressão com a agressão, vamos dominando nossos instintos agressivos e aprendendo a não mais nos perturbarmos com as agressões que recebemos. Quando damos um passo à frente e começamos a retribuir a ofensa com uma palavra amiga e o prejuízo recebido com a ajuda desinteressada, perceberemos que cada agressão que recebemos é oportunidade única para repararmos nossas faltas pregressas, saldarmos nossos compromissos com a Lei de Deus e galgarmos preciosos degraus da imensa escala da evolução.

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Concluiremos esta primeira parte de nosso estudo, com a palavra sábia e poética de Joanna de Angelis:

"És vida e és parte essencial da Vida em tudo manifestada. Oferece a tua contribuição de harmonia, nunca a depredando, nem gerando embaraços que lhe possam perturbar a marcha".

"Respeita a vida em qualquer aspecto que se apresente".

"Limpa uma vala, planta uma árvore, semeia um grão, viabiliza uma ocorrência enobrecedora, oferta um copo com água fria, brinda um sorriso, sê útil de qualquer maneira..."

"A vida transcorrerá para ti conforme a desenvolvas".

"Diante de qualquer dificuldade, insiste com amor e aguarda os resultados sem aflição".

"Não blasfemes, nem te rebeles, quando algo não te corresponder à expectativa".

"És vida em ti mesmo, e o exterior sempre refletirá o que cultives internamente."


Segunda Parte

O Filósofo Prático da Reverência à Vida

Ao longo dos milênios, muitos foram os Espíritos adiantados que encarnaram no Planeta que, com palavras e exemplos, fazendo do Amor à Vida um de seus mais importantes ensinamentos.

Para não nos estendermos em uma longa lista, vamos apenas relatar uma pequena história.

No final do século passado, no dia 14 de janeiro de 1875, nascia na Alsácia, região na fronteira entre a França e a Alemanha, que na época pertencia à Alemanha e hoje, à França, um menino, filho de um pastor luterano.

Esse menino foi chamado de Albert, nome alemão que corresponde a Alberto. Desde cedo se manifestou talentoso e dedicado, tendo aos 24 anos obtido doutorado em filosofia e aos 25, grau avançado em teologia, ao mesmo tempo em que se tornava o maior especialista mundial na construção de órgãos (musicais).

Em 1904, portanto, com 29 anos, deparou com um artigo em uma revista pedindo médicos voluntários para a colônia francesa do Gabão, na África. A leitura desse artigo viria a mudar a sua vida. Sentindo-se como que convocado para uma missão, iniciou de imediato a estudar medicina, concluindo que seu desejo era trabalhar com as mãos, de forma a por em prática aquilo que expressava com suas palavras como teólogo, estudioso de religião.

Graduado em medicina com 38 anos, seu pedido de adesão como médico na Sociedade Missionária que recrutava médicos para a então África francesa foi rejeitado, sob a alegação que não queriam teólogos e pensadores para atrapalhar os trabalhos de assistência humanitária junto aos nativos, com idéias e pregações que de nada lhes valeriam. Pois bem, longe de esmorecer em sua empreitada, o Dr. Albert Schweitzer, pois este era seu nome, agora já casado com uma amiga que sempre o apoiara, partiu para angariar fundos para montar um hospital na África e sustentá-lo durante dois anos. Ao cabo desse esforço incansável, partiu para o Gabão em 1913 para construir o famoso hospital de Lambaréné, que existe até hoje, atendendo gratuitamente à população carente de uma enorme região, hoje patrocinado pela Sociedade que leva o nome do seu grande fundador.

Foi esse missionário singular, que dedicou sua vida até desencarnar em 1965, com 90 anos, a salvar vidas em um país pobre e estranho e a minorar sofrimentos dos abandonados pela sorte, que forjou a tese filosófica a que chamou de Reverência pela Vida em Ação.

Para concluir esse trabalho, deixamos a palavra com o Dr. Albert Schweitzer, falando sobre a sua tese de Amor à Vida:

"Eu sou vida que quer viver, no meio de vida que quer viver. Como em minha própria vontade-de-viver existe um anseio por uma vida mais ampla e prazerosa, com receio do aniquilamento e da dor; assim também se dá com a vontade-de-viver à toda a minha volta, quer ela consiga se expressar diante de mim, quer permaneça muda. A vontade-de-viver está presente em toda parte, assim como em mim. Se eu sou um ser pensante, devo enxergar vida além da minha com a mesma reverência, pois eu devo saber que ela deseja completude e desenvolvimento com tanta profundidade quanto eu mesmo desejo. E isso é verdade tanto visto do ponto de vista físico quanto espiritual. A bondade, pela mesma medida, é o salvamento ou a ajuda da vida, tornar possível a toda vida que eu puder ajudar o alcançar de seu mais alto desenvolvimento.

Em mim, a vontade-de-viver ficou sabendo da existência de outras vontades-de-viver. Existe nela uma ânsia de chegar à unidade consigo mesma, de se tornar universal. Não posso senão aceitar o fato de que a vontade-de-viver em mim se manifesta como vontade-de-viver que deseja se tornar una com outras vontades-de-viver.

A Ética consiste no meu experimentar de uma compulsão por mostrar a toda vontade-de-viver a mesma reverência que mostro à minha própria. Um homem é verdadeiramente ético somente quando ele obedece à compulsão por ajudar toda a vida que ele é capaz de assistir e evita ferir qualquer coisa que viva. Se eu salvo um inseto de uma poça, a vida se dedicou à vida, e a divisão da vida contra ela mesma acabou. Quando quer que minha vida se devote de qualquer modo à vida, minha vontade-de-viver finita experimenta a união com a vontade infinita onde toda a vida é una.

Uma ética absoluta pede a criação da perfeição nesta vida. Ela não pode ser completamente alcançada; mas isso realmente não importa. Neste sentido, a reverência pela vida é uma ética absoluta. Ela faz com que somente a manutenção e a promoção da vida se classifiquem como boas. Toda destruição da vida e agressão a ela, sob quaisquer circunstâncias, é por ela condenada como má. É verdade, na prática somos forçados a escolher. Há momentos em que temos que decidir arbitrariamente quais formas de vida, e ata mesmo quais indivíduos particulares, teremos que salvar, e quais iremos destruir. Entretanto, o princípio de reverência à vida é universal e absoluto.

Uma tal ética não elimina para o homem todos os conflitos étnicos, mas o compele a decidir por si mesmo em cada caso até que ponto ele deve permanecer ético e até que ponto ele deve se submeter à necessidade de destruir e ferir a vida. Ninguém pode decidir por ele em qual ponto, em cada ocasião, se encontra o limite extremo da possibilidade de sua persistência na preservação e na continuação da vida. Somente ele deverá julgar esta questão, deixando-se guiar por um sentimento da mais alta responsabilidade possível por outra vida. Nunca devemos nos deixar ficar cegos. Estamos vivendo na verdade quando experimentamos estes conflitos mais profundamente.

Quando quer que eu fira qualquer tipo de vida, devo estar bem seguro de que é necessário. Além do inevitável, jamais devo ir, nem mesmo com aquilo que nos pareça insignificante. O fazendeiro, que ceifou mil flores no seu campo para servir de forragem para suas vacas, deve tomar cuidado ao voltar para não arrancar, em um passatempo intencional, uma única florzinha plantada à beira do caminho, pois então ele estará cometendo um erro contra a vida sem estar sob a pressão da necessidade."

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