quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ofício Paterno

Conta-se que um homem, ainda jovem, querendo saber o segredo de ser um bom pai, foi visitar um sábio que vivia numa alta montanha.
Sendo recebido por ele, foi logo expondo o seu problema.
- Estou aqui porque preciso da sua orientação. Não sei bem como lidar com meus filhos. Se sou severo com eles, acusam-me de ser ditador, se sou atencioso, gentil, tomam-me por fraco...
Amigo, me diga qual é a melhor forma de criar os filhos!
O sábio ouviu-o atentamente e limitou-se a entregar-lhe um cinzel
e um bloco de madeira, dizendo:
- Pega isso, filho, e leva contigo. Quando tiveres esculpido uma obra de valor, traga-a aqui e terás a resposta que procura.

O jovem pai olhou-o surpreso. Não quis ser descortês com quem lhe dispensara um pouco do seu tempo e fizera a gentileza de recebê-lo em sua casa. Meio decepcionado, pegou o que o sábio lhe oferecia, levantou-se e saiu.

Mais entristecido do que nunca, chegou em casa cabisbaixo.
Os filhos logo o cercaram querendo saber para que serviam aqueles instrumentos. Ele se deixou envolver pela alegria contagiante das crianças e logo se viu sentado entre elas tentando esculpir na madeira.
Passaram-se os dias, quase sem ele perceber. Conseguira concluir sua obra! Então, subiu novamente á montanha e, orgulhoso, apresentou ao sábio
o resultado de seus esforços. Tomando a escultura nas mãos, o sábio observou e apreciou cada detalhe.

- Muito bem! Disse ele dirigindo-se ao pai. - Ao esculpir a madeira, como eram os golpes que você dava com o cinzel? Fortes ou fracos?

- No início eu dava golpes duros, secos, desajeitados. Percebi que isso prejudicava a madeira. Mas fui aos poucos adquirindo prática e, então, fui aprendendo a golpear com menos força, a usar melhor o cinzel,
a tirar somente as lascas que fossem necessárias.
Aprendi a conhecer a madeira, a amar a obra.

Conseguia visualizar quão bela seria mesmo antes dela tomar forma.
Aprendi a respeitar suas limitações, e as minhas, a saber que para cada obra é necessário um tipo de madeira, que é preciso paciência, cuidado com os detalhes, saber olhar. Aprendi que outros podem me ajudar,
mas cabe a mim a tarefa de terminar.

Aprendi a não esperar a perfeição, visto que meus próprios esforços são imperfeitos, e que muitas vezes ainda vou errar. Aprendi que, mesmo se houvesse um modelo a seguir, cada obra é única, não aceita imitação. Aprendi que a beleza já reside na madeira, minha função é apenas ajuda-la a vir para fora. Aprendi que por detrás de uma aparência rude, descuidada e até danificada, pode estar uma madeira nobre, precisando de reparos, que pode ser recuperada se souber
trabalhar nela com carinho.
Aprendi a olhar para dentro de mim mesmo, mas a não permanecer apenas lá. Aprendi que quanto mais perto de Deus me sentir, mais passo isso para o que estou fazendo. Aprendi que estou aqui para aprender
mais do que para ensinar...
- Muito bem, meu amigo, concluiu o sábio - Aprendestes o ofício paterno.
Aprendestes a ser Pai!

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