sábado, 13 de fevereiro de 2010

Traumas de Nascimento

Contudo, ficou também claro que a escolha tinha sido igualmente feita em nível de alma. A atração magnética para seus pais adotivos era excepcionalmente forte, o suficiente para que eles fossem orientados na direção de Mary, ainda antes de sina existência real no plano terreno.

Os novos pais tomaram precauções extremas para ocultar legalmente os registros de nascimento, a fim de que Mary jamais fosse capaz de rastrear seu passado. Nenhuma despesa foi poupada para garantir o conforto da mãe grávida. Mary sabia-se desejada, adorada e ansiosamente esperada, antes do nascimento. A separação da mãe natural não chegou a constituir um choque. Seu excitamento resultava de já saber quem e o que a esperava na outra extremidade. Absolutamente nada lhe fora dito durante toda a vida sobre sua situação pré-natal ou sobre seus pais naturais. Tal assunto era um capítulo encerrado na família. Contudo, na sessão de regressão, ela viu, mental e claramente, o que havia transpirado. Sabia que era de outra nacionalidade, diversa da dos pais adotivos. Sempre sentira possuir uma ascendência italiana, que não era a de sua família. Na sessão, ficou sabendo que seu pai era realmente italiano e, de algum modo, bastante conhecido em seu país como artista. Mary se rejubilou com a recém-encontrada ascendência e, como resultado dessa nova percepção, desenvolveu uma habilidade artística. Sempre se sentira atraida pelas artes, porém os pais não possuíam temperamento artístico e não a tinham encorajado nessa exploração de seu talento.

Quando Mary explorou outra situação de vida passada, a inclinação artística tinha sido ainda mais pronunciada. Neste caso em particular, ela se viu como membro de uma importante família renascentista italiana e prestigiada patrocinadora das artes. Muito do luxo e opulência que a tinham cercado nesta vida anterior fora trazido de volta na existência presente, embora em circunstâncias bem diversas. Mary sentia que agora tinha permissão para continuar desenvolvendo o potencial que começara a usar em outro plano de tempo. O senso de Mary quanto a ser bem-vinda à vida presente, assim como no relacionamento à riqueza e conforto em outra existência, proporcionou-lhe um diferente sentido de segurança e uma nova permissão para expressar um talento que estivera latente.

Por vezes, torna-se difícil a interpretação do mapa astrológico de uma pessoa porque o cliente talvez esteja de todo inconsciente das forças sutis dentro de si mesmo, as quais posso ver com clareza no mapa. Quando um cliente submeteu-se a alguma forma de terapia, portanto estando mais cônscio de seus padrões, consegue captar mais das mensagens sutis do horóscopo. Se eu descrever a verdade sobre seu processo de nascimento e seu relacionamento com os pais, por exemplo, ele pode negar vigorosamente essa interação ou decisões de sobrevivência envolvendo o nascimento. Se, mais tarde, ele passa por uma sessão de regressão, tais "fatos" se tornam inteiramente claros. Em geral, o cliente adquire um profundo senso de admiração ante suas próprias e iniciais escolhas conscientes, porém esquecidas. Em muitos casos, torna-se aparente um forte padrão de Saturno, para mim um indicador de que a negação é um tom de sua sobrevivência, tornando ainda mais forte a necessidade de descobrir a verdade, por meio de uma sessão de regressão.

Os mais trágicos destes casos freqüentemente têm a ver com o abuso sexual da filha muito nova pelo pai. Eu poderia, por exemplo, falar sobre a qualidade do medo que a pessoa sente do pai ou sobre seus bloqueios perturbando a expressão plena do relacionamento. A negativa do paciente poderia ser bastante firme. Houve uma particular situação em que a mulher viu, com plena nitidez, que quando era muito nova, o pai mantinha relações sexuais com ela, constantemente, nas ausências da mãe. Em benefício da sobrevivência, a mulher havia eliminado inteiramente tal fato da mente consciente.


A cada nova sessão de regressão, descubro que as coisas mais surpreendentes são as variadas descrições do processo de nascimento. Nestas sessões, é claro que não posso influenciar o que a pessoa vê por si mesma, porém me permito sugerir que o caso poderia ser desta ou daquela maneira. Entretanto, o paciente costuma corrigir-me e declarar com bastante clareza as caracteristicas de sua experiência pessoal. As pessoas parecem capazes de descrever até mesmo o aposento em que ocorreu o evento, se foi em casa ou no hospital. Elas conseguem ver se foi uma experiência fácil ou difícil e exatamente quem cuidava do atendimento. Mais do que tudo, no entanto, é nítido para elas qual a exata atitude da mãe naqueles momentos, se estava adormecida, drogada, excitada, assustada ou exultante. Elas se sintonizam sem dificuldade com a atitude dos médicos ou enfermeiras, outros parentes no aposento ou parteiras incumbidas, mas, acima de tudo, sabem qual foi sua atitude precisa a respeito do evento. Não há uma descrição igual à outra.

Em cada caso, no entanto, houve um fio de similaridade entretecendo tais eventos: ninguém já se viu desejando entrar no plano terreno. A resistência ao processo do nascimento em si tem sido descrita em níveis variados. Um bom motivo para este fenômeno é a disposição de Saturno no horóscopo, quando indica especificamente que seria proveitosa uma sessão de regressão, em vista da resistência ao nascimento. Só costumo recomendar uma sessão de regressão se tal fator ficar evidente. Entretanto, quando comecei a analisar mais profundamente as possibilidades intermináveis de que Saturno pudesse estar lançando uma sombra no mapa astrológico, foi difícil encontrar um só indivíduo sem esse aspecto, fosse diretamente ou por reflexo para outro planeta. E possível que apenas pessoas com certos aspectos fossem atraídas por mim para lhes fazer uma leitura astrológica. Talvez só me pedissem para fazer seu mapa astrológico quando estivessem dispostas a participar de uma sessão de regressão, a fim de serem revelados padrões de vida passada. Infelizmente, nunca tive tempo suficiente para um estudo estatístico de longo alcance sobre a incidência de Saturno sombreando um mapa em um sentido específico. Minha observação é que dificilmente existirá uma pessoa que não entrou nesta vida esperneando e gritando, não querendo voltar mais uma vez à escola. Em sua maioria, as pessoas parecem querer liquidar a lição de Saturno o quanto antes, para acabar logo com o assunto.

Quando Saturno rege o ascendente ou está localizado na casa um, essa resistência é claramente descrita na sessão da regressão. A relutância em nascer tem origem em muitas causas.

Um homem de negócios europeu, muitíssimo bem-sucedido na vida, descreveu assim seu nascimento:

Estou no útero. Eu o preencho inteiramente, porque peso cerca de cinco quilos. Estou muito apertado. Isso me faz querer sair daqui. Está quase na hora de nascer, mas disse-ram para minha mãe que ela teria que comer por dois, de maneira que ela come por dois. Ela não consegue dormir na cama, tem que ficar na cadeira de balanço. Alimenta-se à força e, conseqüentemente sou alimentado também. E muito desconfortável, porque ela coloca um prato em cima de meus pés e de minha cabeça. Certa vez, quando pôs o prato sobre meus pés, eu o chutei de propósito, mas ela não me ouviu. Pode ser que as pessoas não me ouçam no início.Sinto a pressão em torno de meus ombros e da cabeça; o cordão umbilical me contorna o pescoço, segundo parece. Começo a empurrar com os pés, a fim de sair. A água se rompe e meu nascimento é logo depois. Eu me impelia no carro, a caminho do hospital, e provoquei o rompimento da água. Ela está apreensiva e eu também. Preciso sair deste lugar o quanto antes. Ela já perdeu dois filhos antes e estou decidido. Demora muito, pois é um longo trajeto para sair, e sou um bebê grande. Ela sente dor, de maneira que quero sair o mais rápido possível. Sinto algo puxando, como fórceps. Fico zangado com os médicos por fazerem isso, por-que me puxam pela cabeça. Meu padrinho finalmente consegue e começo a gritar. (Ele é médico.) Está todo ensangüentado. Há duas enfermeiras atendentes. Ele está feliz e sorridente, apesar da dificuldade. Minha mãe chora, porque se sente feliz, mas também sente dor. Suas lágrimas são principalmente de alívio.Sinto-me um tanto ambivalente sobre minha mãe. Não a conheço direito. Não tenho a mais remota idéia do que está acontecendo, é tudo muito estranho. Não sei por que estou aqui, mas sei que cuidarão bem de mim. Não gosto de estar em um corpo grande, mas ouço à minha volta palavras significando "Que lindo", no sentido de Rembrandt. Então sinto-me bem, porque sou mais robusto do que outros bebês. A corpulência me conseguiu o que eu queria, embora não gostando muito dela. Ainda gostaria de não ser tão grande. Não aprecio sentir-me tão resguardado, porém o tamanho me confere uma vantagem. Ainda confere. Desconfio que a corpulência, entretanto, seja uma forma de autopunição. No hospital, após minha mãe amamentar-me, deram-me uma mamadeira extra, dizendo que, por eu ser tão grande, precisava de mais alimento do que ela poderia dar-me. As pessoas continuam a alimentar-me. Dizem: "Oh, Michael, só mais um pouquinho!" Assim, comendo, eu deixo todo mundo feliz. Meu tamanho significa estabilidade em áreas comerciais. Acho que, nesse sentido, ele me confere certa vantagem.

A qualidade do Saturno de Michael descreve a sensação de claustrofobia antes do nascimento e a dificuldade envolvendo o processo do nascimento em si. Seu mapa astrológico indica, com clareza, sua antipatia pelo veículo que escolheu nesta vida.

Tina, uma mulher americana que nasceu em casa, recorda seu nascimento desta maneira:

E um dia escuro e frio. Pareço mais ou menos abandonada. O aposento é o quarto de dormir, porque nasci em casa. O médico está lá com minha mãe. As pessoas estão no outro aposento, ele é o único que fica aqui. Minha mãe está deitada na cama, com dores. Não dá qualquer atenção a mim. Tenho três quilos e seiscentos gramas de peso, mas acho que houve alguns problemas depois de meu nascimento. Ela disse que poderia haver um gêmeo que não se desenvolveu. Penso que isto tenha algo a ver com a placenta. Ela estava apenas em estado de tensão e, de fato, não queria que isto acontecesse a seu corpo. Agora dificultou tudo, resistindo ao processo de nascimento. E o medo que a deixa tensa. Suponho que ache todo o processo de nascimento muito degradante. Creio que tudo no ato sexual a irrite, e agora o médico tem que olhar para suas partes íntimas. Ela nada pode fazer contra isso, de modo que se sente muito humilhada. Uma médica teria sido melhor. O próprio fato de estar grávida demonstra que a pessoa fez aquela coisa repulsiva. Acho que ela ficou bastante zangada por ficar grávida. Não creio que meu pai soubesse como relacionar-se sexualmente com minha mãe ou que houvesse grande compreensão entre eles, neste particular. Provavelmente, ele a forçou a cumprir seus deveres conjugais.Alguma coisa está acontecendo dentro de mim. Parece como se o esôfago estivesse bloqueado. Outras coisas estãointerferindo em minha alimentação, mesmo desde o nasci-mento. Sinto muita fome, mas o médico está cuidando de minha mãe, lidando com a placenta, que continua presa dentro dela. Como ela acha tudo isso tão desagradável, não consegue liberar a placenta. Tenho a impressão de que nem me embrulharam ainda, nem ao menos me limparam. Estou apenas jazendo em cima de uma mesa. E um dia de frio cortante, pois estamos em dezembro. Há tempestade, com ventos soprando forte. Só não fico doente por causa de minha força de vontade. E como se, desde o começo, estivesse decidida a cuidar de mim mesma. Ouço minha intuição e tento agir de acordo. Não quero ficar doente porque, se ficasse, ninguém cuidaria de mim. Sinto grande indiferença por ela e digo para mim mesma: "Se você não me quer, então também não quero você. Nem mesmo vou deixar que saiba, quando precisar de você." Claro que vou precisar dela, mas não a deixarei saber que preciso.Meu pai só pareceu tomar conhecimento de minha existência quando fiquei com uns onze meses de idade. Tenho a impressão de que estava em outro aposento quando nasci, necessitando cuidar de si mesmo. Sinto-me como o mais forte deles, de maneira que desenvolvo uma atitude estóica. Quero apenas ser reconhecida como estando aqui, porém não sei como. Que engraçado... uma de minhas expressões favoritas é, não sei como, não sei como. Não sou importante o bastante para conseguir qualquer atenção. Há outra coisa com mais prioridade de modo que fico em segundo lugar. Mesmo agora, a esta altura dos acontecimentos, o que faço parece não ter a menor importância. Acho que o médico finalmente me embrulha e me entrega para minha mãe. As circunstâncias de meu nascimento parecem descrever minha vida inteira!

Outra jovem, chamada Valeria, também viu o horror da mãe à gravidez, porque isto anunciava ao mundo que ela havia tido sexo com o marido. Sua descrição do nascimento, contudo, é bem diferente. Ela disse:

Minha mãe passou por momentos terriveis, absolutamente medonhos, no momento de meu nascimento. -Ficou cinqüenta e seis horas em trabalho de parto e completou quarenta e dois anos de idade apenas um mês depois que nasci.

Supunha-se que eu nasceria em seu aniversário, 8 de setembro, mas vim ao mundo um mês antes. Vejo meu pai sentado na sala de espera, com a cabeça entre as mãos. Está muito assustado, pensando que minha mãe vai morrer. Posso vê-lo como se estivesse sentado nesta mesma sala, mas o fato é que não conseguiria vê-lo, já que não me encontrava na sala de espera. (Eu sugeri que ela talvez estivesse perambulando pelos arredores.) Isto faz com que me sinta muito má. Não estou preocupada com minha mãe, porém sinto a emoção e o sofrimento do meu pai, o que me entristece bastante. Também posso ver os médicos. Todos parecem preocupados. Oh, um deles é uma médica. Minha mãe está coberta por lençóis e não consigo ver-lhe o rosto. Quase sinto vontade de dizer que ela não está ali. Não é nela que eles estão trabalhando. Talvez ela não esteja em seu corpo. Pelo que me contaram, fiquei sabendo que quase morreu.

Eu ainda não penetrei em meu corpo. Creio que nunca estive nele. Sem dúvida, não seria um lugar muito bom para estar. Eu sofreria, porque eles estão usando fórceps... ela simplesmente não parece me estar dando à luz. E como se estivesse fraca demais para fazer o que é preciso. Acho que não quero entrar em meu corpo, de modo nenhum. Aliás, acho que estou tentando não entrar. Afinal, não quero nascer! Então, penso que minha mãe já suportou tudo quanto poderia suportar e, se eu não colaborar, ela irá morrer. Preciso pôr um fim nisto.

Quando vejo minha mãe, é como se estivesse vendo qualquer um. Não tenho a menor identificação com ela, mas sim com meu pai. Pobre papai! Ele se acusa por tê-la engravidado. Ela tem idade demais para ser mãe. Está sentado em um sofá verde, parecendo muito infeliz. E quase como se eu tivesse entrado na sala de espera e visto meu pai, visto todo o sofrimento e agonia... Então, após alguma deliberação, eu me decido, resolvo nascer. Vejo o médico e aquele corpo jazendo ali. Vejo o fórceps e fico apavorada com aquilo. Oooh! Não gosto nem um pouquinho! Meu pai quer muito um filho, porém não quer perder a esposa para ter um. Fazer isto é como uma dor no traseiro. E como ir ao dentista. Não gosto de ir ao dentista, mas se não for, meus dentes cairão; portanto, tenho que ir.

Não há ninguém lá para reclamar aquele corpo de bebê. Alguém ainda não está pronto. Ela (minha mãe) está commedo. Sendo enfermeira, tem contato com bebês, sabe lidar com eles e deseja ter o seu, mas não imaginava que fosse desta maneira. Acho que, no fundo, ela não deseja a responsabilidade de um filho. Sinto que ela se sabe em perigo, mas irá agüentar o máximo possível, sem prejudicar-se. E como se ela estivesse fazendo os movimentos para dar à luz, porém sem realmente ter a criança. Minha sensação é de "Não tenho culpa, não tenho culpa". Ela me acusa! Ela sente aversão pelo sexo. E uma coisa suja e, se você engravidar, estará admitindo para todo mundo que teve relações sexuais. Se, pelo menos, ela pudesse engravidar por outros meios, tudo estaria certo. E como a humilhação pública. Meu Deus, sou a humilhação pública de minha mãe! Não é de admirar que fosse tão tímida a vida inteira...Ela vivia me incentivando para concursos de beleza... Todas as notas de minha filha são A, minha filha isto, minha filha aquilo, mas mesmo assim... Não quero ser a humilhação pública de minha mãe. Estou falando isto enquanto flutuo em torno. Não é minha culpa, mas sou responsabilizada por isso. Eu e minha mãe estamos em conflito o tempo todo. Salvei a situação e fui punida por isso. Meu pai con-seguia tudo de mim, apenas falando comigo. Não que ela desgostasse de mim, claro, porém eu era a criança que não havia desejado sinceramente. Os médicos já lhe tinham dito que não poderia ser mãe. Tivera uremia em outra gravidez, fizera um aborto e .tinham-lhe dito para não tornar a engravidar. Tudo está muito claro agora. Vivíamos em conflito, nós duas. Gosto que as coisas sejam claras, mas quando eu queria um sim ou não como resposta, ela dizia: "Veremos." Você não imagina o que essa mulher fez comigo, a minha vida inteira!

Minha experiência mais comovedora com percepção do nascimento talvez seja aquela em que trabalhei com um rapaz chamado Bob. Ele é excepcionalmente atraente, tendo chegado ao ápice da profissão que escolheu devido a uma óbvia elegância, senso de si mesmo e encanto. E também excepcionalmente talentoso em seu campo de atividade. Quando o conheci, usava um terno escuro que ressaltava ainda mais suas belas feições.

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