domingo, 11 de abril de 2010

PENSE E FALE NO BEM

A calúnia pesava agora sobre o casal sem filhos.
O esposo, ciumento, sofria a pressão de cartas anônimas e, na
oficina em que trabalhava, um que outro companheiro deitava
murmurações, a envenená-lo pelos ouvidos:
- Ela é máscara simplesmente.
- Não merece respeito.
- Eu a vi numa casa de perversão.
- Fuja dessa mulher.
Nesse dia, o marido sugestionável veio a saber, por um colega
maledicente, que um homem conversava em grande intimidade com ela à
porta dos fundos.
Armou-se o infeliz, deixou o serviço e correu a vê-la, e,
porque não a encontrasse de pronto, em casa, saiu à rua, de ânimo azedo.
Por duas horas, que lhe pareceram longo tempo de agonia
moral, procurou-a, através de ruas e praças, mentalizando quadros de
estarrecer.
Suarento e dementado, voltou ao recanto doméstico. Notando
sinais de que ela voltara, entrou de manso, pé ante pé.
Junto à porta cerrada do aposento, estacou e ouviu, surpreso,
a voz da esposa, a repetir várias vezes: "meu amor", "meu carinho",
"que alegria de te ver", "até que enfim estamos juntos".
Furioso e irresponsável, o operário saca do revólver, vara a
porta e, sem um segundo de meditação, descarrega a arma sobre o leito.
Só depois, tarde, porém, veio a saber de tudo.
A senhora, que em secreto distribuía a caridade, havia saído com seu
velho tio e ganhara um cachorrinho, ao qual afagava, enternecida.

*

Sempre que os seus ouvidos forem chamados a notar supostos
defeitos ou falhas dessa ou daquela pessoa, pense e fale no bem, na
certeza de que o mal, seja ele qual for, não é digno de atenção, nem
traz proveito algum.

Sem comentários:

Enviar um comentário